sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Mundo Por Trás do Egito

- I want my money! (Eu quero meu dinheiro!) – Disse, com sotaque típico, um cidadão egípcio quando perguntado sobre o que diria ao agora ex-presidente Hosni Mubarak. A resposta acena para além do viés político internacionalmente destacado no movimento pela democracia egípica. Internamente, a dicotomia econômica e social do país incitou a população - onde cerca de trinta por cento vivem abaixo da linha de pobreza - contra um ditador multimilionário.

Daqui a algumas horas devem pronunciar-se Estados Unidos e União Europeia, e o teor dos discursos é mais previsível do que foram os desdobramentos do conflito egípcio. Os elaboradíssimos discursos das autoridades europeias e de Barack Obama devem identificar-se nas congratulações e no apoio ao povo egípcio, mas a saudação terá como pano de fundo uma tormentosa situação internacional.

O temor americano à oposição da Irmandade Muçulmana afrouxou o discurso democrático de Obama na questão do Egito. Oscilou entre a afirmação categórica pela renúncia e a hesitação, quando sugeriu a transição cautelosa do poder. Na Europa, a condescendência se explica pelas relações que alguns Estados – principalmente a França – historicamente desenvolveram com governos ditatoriais, a exemplo do recém-destituído presidente Zine El Abdine, da Tunísia.

O acanhamento dessas potências é paradoxal. O mesmo tratamento não é dispensado a outros regimes ditatoriais, como no caso do iraniano Mahmoud Ahmadinejad e do venezuelano Hugo Chavez, considerados inimigos. Por tratar-se de uma conquista atribuída exclusivamente à vontade do povo egípcio e, que não contou com interferência internacional, caberá aos EUA e à Europa tão somente aplaudir a conquista egípcia e posicionar-se, mais uma vez, conforme os próprios interesses.

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